quarta-feira, 22 de julho de 2009

Um partido que aspira ser inteiro

http://congressoemfoco.ig.com.br/noticia.asp?cod_canal=4&cod_publicacao=29039

Chico Alencar*

Partido político, no Brasil, costuma ser um amontoado de interesses difusos (às vezes confusos) para desfrute das benesses do poder. Do antigo PSD, que de social e democrático pouco tinha, dizia-se ser “uma ostra incrustrada na nau do Estado”. Por isso ganhou a definição antológica de sua ontologia: “nem a favor nem contra, muito pelo contrário”. Sempre à sombra do poder, sempre apoiando o poderoso de plantão. Não seria exagero enxergar nessa postura a do PMDB atual, que é o maior partido do país. Mas, além do governismo atávico de quase todos, é de espantar a falta de doutrina, de princípios, de coerência ideológica da quase totalidade de nossos partidos, passados 25 anos do último processo de democratização. O pragmatismo sem limites vigente faz adversários mortais de ontem abraçarem-se hoje, despudoradamente. As legendas só têm existência real no período eleitoral, quando saem à cata do que lhes dá nervo e vida por quatro anos: os votos do eleitorado. Fora desse “tempo da política”, sua existência é meramente cartorial ou burocrático-institucional, nos teatros sem povo dos parlamentos municipais, estaduais e nacional.

O Partido Socialismo e Liberdade (Psol), nascido há cinco anos, ousa afirmar-se como “um novo partido contra a velha política”. Numa conjuntura extremamente adversa, originário da decepção com o “transformismo” e com o fiasco moral da experiência petista – que passou, no governo federal, a aderir às linhas de política econômica e de alianças que sempre condenara –, o Psol busca resgatar antigas e saudáveis tradições da esquerda: disputar espaço na institucionalidade sem desvincular-se dos movimentos sociais, seu principal nutriente; não acomodar-se à ordem vigente e às seduções das mordomias do poder; operar em torno de ideias e causas, e não de acertos palacianos e cargos; cobrar permanentemente moralidade pública, baseada na austeridade e na transparência, sem fazer, entretanto, “cruzadismo moral” ou posar como “vestal”; estimular permanentemente a organização consciente e autônoma da população; manter o horizonte utópico de uma sociedade igualitária e substantivamente democrática, a sociedade socialista.

É nessa perspectiva que o Psol realiza agora o seu II Congresso Nacional. A partir de nove alentadas teses (ver síntese **), que analisam desde a crise global até as realidades locais e as lutas específicas de gênero e comportamento, além de traçar cenários para 2010, os militantes são chamados ao debate. Estes envolveram, até agora, nada menos que 11.200 filiados, em mais de 500 reuniões por todo o Brasil. Dos congressos estaduais em curso sairão os delegados ao congresso nacional, marcado para o final de agosto, em São Paulo.

Em linhas gerais e resumidas, o Psol considera que a crise do capitalismo, embora muito profunda, não é “naturalmente” terminal. O sistema tem muitos modos e meios de sobrevivência. Mas sua essência é predatória: a crise não é só financeira e social, com o desemprego que provoca, mas também ambiental, ecológica. Um novo padrão de desenvolvimento precisará ser radicalmente sustentável e distributivista. Para o Psol, o governo Lula, apesar da inegável popularidade do presidente, desconstituiu a vida partidária mais plena e deu continuidade, na macroeconomia, à linha de FHC, com o superávit primário sendo o eixo de suas políticas. É um governo que assegura a manutenção de lucros extraordinários para os banqueiros e a adesão acrítica dos mais pobres, com políticas compensatórias e assistencialistas. A corrupção, embora inerente ao sistema do lucro e do afã consumista-individualista, precisa ser combatida pontualmente, em cada situação que se revele. É paradoxal que Lula e o PT estejam empenhados hoje na sustentação do tradicional esquema do patrimonialismo, do fisiologismo, do clientelismo. Tudo em nome de uma “governabilidade” que dispensou e dispersou, tragicamente, as forças sociais de mudança presentes na primeira vitória de Lula, em 2002.

O Psol, na auto-análise que o II Congresso propicia, reconhece também sua própria debilidade, com seu ainda incipiente enraizamento social e sua fraca presença nos movimentos populares e sindicais, muitos deles cooptados pelo oficialismo. Mas insiste em construir-se pela base e em manter, através de seus parlamentares, uma permanente interlocução com a sociedade. Também considera que carece de direções mais ativas, orgânicas, e de núcleos locais vivos, que resgatem a boa política da sua contrafação grosseira, que é a politicagem demagógica, o eleitoralismo – geradores do imenso desencanto da população.

Uma certeza será ratificada no II Congresso do Psol: o de que há, na sociedade brasileira, especialmente entre o povo trabalhador – aí incluída a classe média e a juventude –, espaço para um partido autenticamente de esquerda, de massas e de militância, popular e democrático.

* Chico Alencar é deputado federal (Psol-RJ) e professor de História (UFRJ).


Hildegardis-Barbalha(Ce) (22/07/2009 - 10h02)

Vamos sacudir esse país, bater a poeira e o mau cheiro que vem das entranhas dessa classe dominadora, que não sabe o que é suor e nem calos nas mãos. Vamos fazer tremular essa bandeira que nos resta com as cores da esperança, da dignidade e levá-la ao cume das verdades e dos verdadeiros. Vamos incomodar, vamos dizer o que continua "intalado" na garganta dos menos favorecidos e entoar essa canção que faz rima e coro com a "bolsa" dos humildes. Vamos sim!!! Pois não temos nada a temer e nem medo de decepções. Vamos sim!!! Lutar por nós e pelos desavidados, basta ter motivos e querer. Valeu Chico. Saudações Socialistas

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